Lesões e Doenças
Dr. Thiago Bernardo
Capsulite adesiva ou Ombro congelado ou Rigidez do ombro
O que é capsulite adesiva ou ombro congelado?
Capsulite adesiva, também chamada de ombro congelado, é a doença caracterizada por dor e perda dos movimentos (RIGIDEZ) do ombro. Em geral, a dor começa leve e só ocorre em alguns movimentos ou esforços. Com o tempo, piora gradualmente, até passar a ocorrer até mesmo em repouso. A ocorrência de dor noturna é muito frequente e em muito atrapalha o sono dos pacientes.

Por que os movimentos do ombro ficam limitados na capsulite adesiva?
A capsulite adesiva decorre da inflamação da cápsula articular do ombro. A cápsula articular é a membrana que envolve os ossos da articulação, neste caso a cabeça do úmero e a cavidade glenoide. Para que o ombro tenha movimento normal, é muito importante que a cápsula seja relativamente frouxa, permitindo que os ossos se movimentem no seu interior. Quando a cápsula articular sofre inflamação, geralmente, também se encolhe, isto é, se retesa. Consequentemente, o espaço para a movimentação dos ossos no seu interior diminui; em outras palavras, a articulação fica “apertada”, causando restrição dos movimentos do ombro.
Por que ocorre a capsulite adesiva?
O principal fator de risco para a capsulite adesiva é a imobilização do membro superior, seja por problemas do ombro ou por qualquer outro problema que leve à imobilização do ombro. Desta forma, por exemplo, um paciente que sofre um trauma no ombro e, consciente ou inconscientemente, reduz a movimentação do seu ombro por causa da dor pode desenvolver a capsulite. Da mesma maneira, paciente com imobilização do membro superior, mesmo que não seja diretamente do ombro, estão sob risco (por exemplo, pacientes com fraturas do punho ou do cotovelo). Ainda estão sob risco pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos cervicais, torácicos (retirada de tumores na mama, por exemplo) e no próprio membro superior (mesmo os pouco invasivos, como cateterismo da artéria braquial).
No entanto, há pacientes que desenvolvem rigidez do ombro mesmo sem qualquer traumatismo ou imobilização do membro superior. Nestes casos, há que se afastar especialmente duas doenças sistêmicas. Sabe-se que os diabéticos têm uma chance significativamente maior de desenvolverem ombro congelado. Não se sabe exatamente o motivo, mas acredita-se que possa ter relação com alterações no sistema nervoso autônomo, comuns nos diabéticos. Além da diabetes, outra doença sistêmica pode aumentar o risco de uma pessoa desenvolver ombro congelado: o hipotireoidismo, que é a doença caracterizada pela diminuição da produção dos hormônios da tireoide.
Como diagnosticar a capsulite?
O diagnóstico da capsulite adesiva ou ombro congelado é clínico, isto é, pode ser feito pelo médico no consultório, na maior parte dos casos. Recomenda-se realizar radiografias do ombro, com o objetivo de excluir outras causas de dor e rigidez, como a artrose, por exemplo. Ressonância magnética não é importante em confirmar o diagnóstico, mas pode ser útil em alguns pacientes, para excluir causas locais para a ocorrência da capsulite, como rompimentos do manguito rotador.
Qual é a história natural da capsulite adesiva?
Em geral, a capsulite adesiva (ou ombro congelado) começa com um quadro de dor leve no ombro, progressivamente pior, acompanhado de gradual restrição da mobilidade articular. Em determinado momento, a dor atinge um nível máximo, mesmo em repouso. Nesta fase, há grande piora noturna – é a fase inflamatória. Gradualmente, ocorre melhora no quadro doloroso, ao mesmo tempo em que se instala a rigidez mais significativa. O paciente passa a ter dor apenas quando realiza movimentos e deixa de senti-la quando o ombro está parado – é a fase do congelamento, em que o principal problema é a rigidez. Então, paulatinamente, há melhora também nos movimentos, até a recuperação completa ou, pelo menos, quase completa. Embora a maioria dos pacientes recuperem totalmente a mobilidade, alguns permanecem com alguma limitação de movimentos, que normalmente não costuma ter nenhuma consequência funcional.
Todo este processo, do início da dor até a recuperação final, pode levar muitos meses e, se não tratada, talvez anos. Então, o tratamento da capsulite tem como objetivo encurtar este processo, abreviando a duração da doença.
Como tratar a capsulite?
De modo geral, a capsulite adesiva tem boa resposta ao tratamento, isto é, costuma evoluir para a resolução completa dos sintomas. Entretanto, isto costuma levar muitos meses. Uma vez feito o diagnóstico de capsulite adesiva, já temos duas informações: a chance de cura completa é muito alta, mas poderá levar alguns meses, na maior parte dos casos.
Medicamentos
Medicamentos analgésicos são os mais usados na capsulite adesiva, para aliviar a dor do paciente. Entretanto, devem ser usados com cautela devido ao risco de efeitos colaterais, já que a doença normalmente tem um curso muito prolongado até a cura.
Anti-inflamatórios podem causar alívio temporário da dor e não devem ser usados por longos períodos devido ao risco de efeitos colaterais, como sangramento digestivo e insuficiência renal.
Embora não haja comprovação científica, alguns pacientes se beneficiam do uso da pregabalina, que é uma droga usadas para casos de dor neuropática, isto é, aquelas originadas no nervo. A pregabalina inibe a transmissão do estímulo doloroso, reduzindo a dor do paciente. Amitriptilina, um antidepressivo, também pode atuar da mesma forma.
Infiltração
A infiltração é a injeção de corticoesteróides e anestésico local no interior da articulação. Como os corticoesteróides são potentes anti-inflamatório, sua aplicação dentro do ombro, pode reduzir acentuadamente o quadro inflamatório, consequentemente, reduzindo a dor e melhorando os movimentos. Embora sejam muito eficazes como anti-inflamatórios, os corticoesteróides podem trazer efeitos colaterais, como elevação da glicose no sangue, alteração da pressão arterial, entre outros. Por isso, deve ser criteriosamente indicado pelo médico. Além disso, não se recomenda a realização de mais de 3 infiltrações no mesmo local. Caso necessário repetir a infiltração, portanto, é sugerido respeitar o limite de três, com intervalo mínimo de um mês entre as aplicações.
Bloqueios do nervo supraescapular
O nervo supraescapular é o responsável pela transmissão dos estímulos dolorosos do ombro ao sistema nervoso central, isto é, permite que o cérebro “perceba” que o ombro está doendo. A dor, além de incomodar o paciente, dificulta a realização de exercícios para recuperação da mobilidade do ombro, pois a pessoa que tem muita dor naturalmente evita movimentar o ombro. Assim sendo, a realização de bloqueio anestésico do nervo supraescapular, interrompe, ao menos temporariamente, a transmissão destes estímulos ao sistema nervoso central. É uma anestesia, portanto. O objetivo é que o paciente consiga realizar os exercícios de recuperação dos movimentos, uma vez beneficiado pela anestesia. E, assim, melhore gradativamente do quadro doloroso e da rigidez. Normalmente, os bloqueios devem ser repetidos quinzenalmente, num máximo de 15 aplicações. Embora seja um método eficaz em tratar pacientes com capsulite adesiva, requer grande comprometimento do paciente para receber as injeções quinzenalmente. Por este motivo, a infiltração é um método mais utilizado.
Fisioterapia
É a principal forma de tratamento do ombro congelado. Nas fases iniciais da doença, em que o ombro está muito doloroso, métodos analgésicos e anti-inflamatórios podem ser aplicados, como TENS, ultrassom, gelo, LASER, entre outros. Além disso, a articulação deve ser gentilmente manipulada, com suaves exercícios de alongamento, a fim de restabelecer a amplitude normal de movimentos. É muito importante que, nas fases iniciais, não sejam realizados exercícios vigorosos, sob pena de piorar a inflamação e, consequentemente, o quadro clínico.
Já na fase de congelamento, os exercícios de alongamento, podem ser um pouco mais vigorosos, desde que sempre respeitando a dor do paciente. Tanto fisioterapeuta e paciente devem compreender que a doença geralmente tem longa evolução e a recuperação da mobilidade deverá ser gradual. Quando a amplitude de movimentos obtida for satisfatória (próxima da normal) e a dor for leve ou ausente, devem-se iniciar exercícios de reforço muscular. Esta é a fase final de reabilitação.
Cirurgia
Geralmente, o tratamento cirúrgico não é necessário na capsulite adesiva. Como visto acima, a maioria dos pacientes se recupera com o tratamento conservador, incluindo medicamentos, infiltrações e fisioterapia. Muitas vezes, o paciente deseja realizar o procedimento cirúrgico antes de insistir no tratamento conservador, mas o médico deve orientá-lo a aguardar, pois, como se viu acima, há grande chance de melhora sem cirurgia.
Entretanto, alguns pacientes realmente necessitarão de cirurgia para alcançar a cura da doença. A cirurgia é geralmente indicada após, pelo menos, 6 a 12 meses de tentativa de tratamento conservador. Quando necessário, o procedimento cirúrgico consiste em uma artroscopia. Entenda mais sobre a cirurgia para capsulite adesiva na seção “Procedimentos”.
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